quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Conto: O reverberar de um esquizofrênico.


Sentada em frente ao seu psiquiatra, Dr. Fábio, Mariza estava triste por decepciona-lo mais uma vez. Mesmo estando triste por isso, sua expressão era a mesma: Neutra. O psiquiatra a encarava com uma leve expressão de pena, balançava lentamente a cabeça em um sinal de não seguidamente. 

— Mariza, por que você empurrou aquele garoto no lago? — Perguntou Dr. Fábio à Mariza em uma fracassada voz calma com o intuito de esconder o nervosismo.

— Eu já disse: Apenas o ajudei. — Respondeu Mariza diretamente.

Dr. Fábio fechou os olhos por 5 segundos e quando os abriu, lagrimas brotaram de dentro de suas pálpebras. Ele não conseguiu conter seus sentimentos, mesmo sendo um psiquiatra com anos de formação ela ainda não conseguia encarar com frieza tais casos. Sua paciente manteve a mesma expressão neutra ao visualizar as lagrimas. 

— O que te fez pensar que ele precisava de ajuda? — Continuou o Dr. Fábio.

— As vozes em minha cabeça. 

— O que elas disseram?

— Elas disseram que o menino estava triste, pois queria nadar e seus pais não o deixavam entrar na agua por algum motivo que eu não sei. Ele estava muito triste por causa disso. E assim como as vozes disseram, eu poderia deixa-lo feliz se o empurrasse para o lago. — Completou Mariza orgulhosa por seu ato nobre.

— E mesmo vendo o menino se debater-se e pedir socorro, você não fez nada? 

Não se sabe se Mariza entendeu ou não o que havia sido dito, pois ela não demonstrou nenhuma expressão de arrependimento. Impassível, apenas disse:

— Ele estava se divertindo.

Dr. Fábio resolveu concluir a consulta indicando-lhe que tomasse injeções antipsicóticas para que as vozes e as alucinações diminuíssem. Em particular, falou para Dona Teresa, mãe de Mariza, para que supervisionasse, ainda mais, a filha. 

— Desculpe doutor. Eu deveria prestar mais atenção aos comprimidos dela. — Disse culpando-se, dona Teresa.

— Não se preocupe, Teresa. Esse comportamento é comum entre os pacientes; eles fingem que tomam o comprimido mas não o engolem, as vozes em suas cabeças dizem para eles fazerem isso. 

Dona Teresa, como em todas as outras consultas, começou a chorar. Dr. Fábio pediu para que se acalmasse e continuou:

— Esconda todas as facas e objetos pontiagudos de sua casa, pois o esquizofrênico não age em decorrência de algum sentimento e, sim, simplesmente obedecendo a um comando. — Vendo que dona Teresa recebia tais palavras ainda com muita dor, ele disse: — Mas lembre-se: Mariza ainda é um ser humano que merece ser amado. Ela não é um monstro. Ela não matou o menino propositalmente. Na mente dela, ela só estava o ajudando.

Dona Teresa, ainda com os olhos marejados, deu um sorriso e disse:

— Eu sei, sim.

No caminho pra casa, Dona Teresa e Mariza caminhavam silenciosamente. Teresa tentou puxar assunto mas sua filha respondia apenas com palavras monossilábicas sem dar muita atenção. Fato que fez dona Teresa calar-se e deixar Mariza organizar os pensamentos.

Inúmeras foram as vezes que Mariza insistia em dizer que estava sendo perseguida, ou que havia câmeras em sua casa. Por mais que sua mãe dissesse ainda mais vezes que nada disso estava acontecendo, a atordoada menina não dava atenção e trancava-se em seu quarto, fechava a janela, apagava a luz, abraçava os joelhos e ficava de tocaia para identificar de onde que vinham as vozes de sua cabeça. 

Só que desta vez a situação foi muito mais além: Mariza matou um garoto de 8 anos, atirando-o no lago. 

No dia seguinte, enquanto aguardava o julgamento, Mariza voltou a ouvir as vozes em sua cabeça. A voz em um tom rouco e amedrontador a mandava se matar. A voz lhe dizia para seguir em frente, encontrar o menino do lago em um lugar melhor.

— Ande, vai ser rápido. Em breve você irá estar junto com o menino triste, e você irá faze-lo feliz de novo. — Dizia roucamente a voz que vinha de lugares diferentes a cada palavra dita.

Mariza assustava-se. Olhava em seus braços os via tortos, jogou-se na cama, mandou a voz parar, mas nada. 

— Pegue a faca em baixo de sua cama que tudo irá terminar. — A frase era tentadora à Mariza.

Tudo ocorreu muito rápido. Mariza seguindo as instruções da voz em sua cabeça, alojou a faca em seu coração, antes mesmo de dona Teresa entrar no quarto, a qual teve um choque de pânico ao entrar no quarto e ver sua filha morta. Ao que parecia, nem as injeções nem os remédios funcionaram. 

E assim, Mariza teve o mesmo fim que muitos outras pessoas nesta mesma situação: O suicídio.

~//~

Bom, e aqui esta um novo consto! Espero que gostem... Se quiserem conferir o outro conto publicado aqui no blog, acessem Conto: Sonho de Uma Noite.

11 Comentários:

  1. Adoreei e olha que nem sou tão fã assim de contos, mas está lindo. Parabéns.
    Beijos

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  2. O final foi clichê, mas não poderia ser outro. Retratou bem essa doença. Todos deveriam ler esse conto. Um alerta de saúde.

    http://jj-jovemjornalista.blogspot.com.br/

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    1. Eu realmente tentei seguir um outro final, mas não me parecia certo fazer isso. Por isso optei por retratar a realidade, que infelizmente é essa.

      Obrigado pela visita! Volte sempre o/

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  3. Olá, tudo bem?
    Adorei o conto! Muito bem escrito e muito bem retratada a doença!
    Acho que você deveria criar um projeto de livro!
    Até mais.
    sonhardevaneios.blogspot.com.br

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    1. Obrigado Anne! Em relação a transformar em livro, bom, agora não, talvez futuramente?
      Mas obrigado pelo apoio \o/

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  4. Gostei bastante do conto, e também do seu blog, achei muito lindo!

    beijos,

    http://sweetlikecaramel.blogspot.com.br

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  5. Caramba Vinicius... que demais !

    Parabéns... eu adorei teu conto :)

    Beijo !

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